Outro dia, fui me encontrar com uma amiga que conheci pela internet, a Nalu, que escreve pro The Stories aqui do grupo waffle. Não nos conhecíamos pessoalmente, e marcamos de jantar.

Quando pedi uma Coca-Cola zero, ela me olhou surpresa e soltou um: “Nossa, você toma refrigerante? Jamais imaginaria.”

Fiquei rindo da situação, mas depois, no caminho de volta pra casa, comecei a pensar. Como assim "jamais imaginaria"? O que será que fez ela acreditar que, por algum motivo, isso não combinava comigo?

• Percebi que, sem querer, a imagem que eu passo nas redes sociais congelou uma versão de mim.

Ela me via como a pessoa saudável, disciplinada, que toma shot matinal e faz exercícios. De repente, minha "marca pessoal" foi comprometida por uma lata de Coca-Cola.

A verdade é que fazemos isso o tempo todo com as pessoas. Rotulamos. Conectamos uma ou duas características a alguém e, sem perceber, criamos uma versão fixa dela na nossa cabeça. “Fulano é o engraçado”, “Beltrano é o introvertido”. E o pior: fazemos isso conosco também.

A gente cria uma identidade e depois fica preso nela. Logo, sem perceber, passamos a proteger essa nossa versão como se qualquer mudança fosse um ataque à nossa identidade. Queremos coerência e previsibilidade. Contudo, será que essa previsibilidade não virou uma jaula?

O problema de congelar quem somos é que deixamos de permitir a evolução. Muitas vezes, você não está estagnado porque não sabe crescer, mas porque tem medo de abandonar a versão que as pessoas esperam de você.

Afinal, se você sempre foi o engraçado do grupo, como vai admitir que cansou de ser o palhaço e se tornou mais sério com a maturidade? Se sempre se definiu como “racional”, como admitir que quer sentir as coisas intensamente?

A verdade é que você não precisa ser um personagem coeso. Você pode mudar de ideia. Você pode ser várias coisas ao mesmo tempo. Você pode sair do roteiro que escreveu pra si e descobrir que ainda existem mil versões suas esperando para serem exploradas.

Talvez você ainda não tenha percebido, mas existe algo libertador em se permitir ser imprevisível. A questão não é apagar quem você foi, mas deixar espaço para quem mais você pode ser.

— Gabi