Tenho dado mais atenção ao silêncio.
POV
Tenho dado mais atenção ao silêncio.


tradução: mudo
Tenho dado mais atenção ao silêncio. Há muito tempo, escrevi aqui um texto sobre a ação da dopamina, um neurotransmissor relacionado a sensação de recompensa, surpresa e prazer.
Os leitores assíduos e mais antigos talvez se lembrem, mas, se esse não é o seu caso, deixo aqui essa reflexão posterior e relevante para o nosso contexto.
Muito se fala sobre como somos bombardeados por estímulos dopaminérgicos a cada instante e como isso pode nos deixar mais ansiosos e viciados. Contudo, quero trazer à luz hoje o que considero uma das principais questões nessa história toda: a desatenção.
Estamos mais desatentos e, consequentemente, menos presentes em tudo o que fazemos. O motivo? Estamos sempre realizando várias tarefas ao mesmo tempo.
Duvido você nunca ter sentido alguma dessas sensações:
- Memória muito ruim ultimamente;
- Não ver 30 minutos se passarem como se fossem 5 rolando a tela do celular;
- Cansaço e certa apatia em relação a quase tudo;
- Solidão e vazio em diferentes momentos — mesmo rodeado de pessoas.
Nos últimos tempos, percebi que essas e outras questões têm a mesma raiz: desatenção.
Como percebi isso? Venho, por alguns motivos, praticando o silêncio.
- Não tenho ouvido música nem no trânsito, nem para fazer exercícios (sim, corro na esteira sem fone).
- Não ligo a televisão só para me fazer companhia e tenho evitado assistir muitos vídeos na internet.
- No início e no final do meu dia, tenho cultivado alguns minutos para simplesmente ficar em silêncio — de preferência, em contato com a luz e o ar natural.
Pode parecer bobagem, coisa de hippie e positividade tóxica para muita gente. Mas ao mesmo tempo, acredito que, mesmo quem pensou nisso, já imaginou também que não deve ser algo muito fácil de fazer — e realmente não é.
Pode parecer bobagem mesmo — eu achava que era. Isso até sentir na pele como estou mais calma desde que comecei a praticar o silêncio.
Nossa cultura teme o silêncio, pois, por diversos motivos, tem medo do tédio. Mas gostaria de destacar um em especial: o tédio nos faz confrontar a imensidão e a complexidade que existe dentro de nós.
Ao fazer isso, o tédio nos convoca a pensar de forma autêntica e ativa sobre o nosso caminho e nossa razão de ser — e isso pode ser muito complicado e até dolorido.
Há tantas opções disponíveis para ocupar a mente, e mesmo que elas sejam ruins e inúteis, as preferimos a nos depararmos com isso.
O grande problema de nos permitirmos preencher com entretenimento barato e amenizar qualquer tipo de pequeno incômodo é que isso deixa o organismo cada vez mais acostumado e viciado em não prestar atenção.
E quando não prestamos atenção, fica muito difícil mesmo entender e apreciar as coisas da vida real, do dia a dia. Fica muito difícil sentir prazer, satisfação e felicidade de verdade — sem presença.
Nossa atenção é um fenômeno seletivo e não se dispersa facilmente. Você pode até conseguir fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, mas prestará menos atenção a uma delas — como comer e assistir vídeos no seu celular simultaneamente.
Infelizmente, por mais saboroso que seja o alimento, ele dificilmente conseguirá competir com os estímulos complexos com os quais seu celular foi propositalmente projetado para capturar sua atenção, acima de tudo.
- Ao não prestar atenção às mordidas, aos sabores e no seu nível de saciação ao comer, pode simplesmente querer um pouco mais ao terminar, e depois mais e mais.
Isso porque seu cérebro não deu tanta atenção ao que entrou no seu corpo quanto no vídeo bacana do Instagram com uma música chiclete.
Não é fácil apenas comer, ler, trabalhar ou apenas fazer um exercício e sentir seus músculos sendo estimulados. Não é fácil.
Não é fácil parar por alguns instantes e observar o céu ou as pessoas ao seu redor, seja na fila do supermercado ou esperando pelo médico.
Não é fácil suportar o trânsito sem um podcast ou uma trilha sonora, nem mesmo ouvir a pessoa do seu lado contar sobre o dia dela. Não é fácil.
Mas treinar isso pode aumentar seu nível de atenção, presença e, consequentemente, sua RESILIÊNCIA em relação a incômodos e sofrimentos — parte da vida de todos.
- Além disso, pode promover a SATISFAÇÃO com a vida normal, cotidiana e cheia de pequenos milagres, que é do que a realidade, majoritariamente, se constitui.
Não seria bom sentir-se bem com isso? Se você tentar fazer as pazes com o silêncio e o tédio, eles podem te convidar a olhar para alguns detalhes que antes passavam despercebidos — e que te mostrarão que isso é possível.
— @Sarinha

Redação

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