Querido amor,

Há um tempo, pretendo falar com você. Mas você existe em tantos lugares e em tantas coisas, que eu não consegui descobrir com qual versão sua deveria falar — até perceber que, talvez, você seja o mesmo.

Na verdade, é a minha percepção de você que muda. Quando eu era criança, achava que você era mágica — literalmente. Mágica do tipo que simplesmente acontece, sem explicação ou esforço.

• Como num filme da Disney, você seria capaz de aparecer e resolver qualquer coisa — até ser o antídoto para uma maçã envenenada.

Quando me tornei adolescente, as coisas ficaram um pouco mais complicadas. Você criou ilusões. Achei que você era “algo que nunca senti antes”. Caí na sua armadilha, mas agora sei que você estava apenas me ensinando a sentir você por mim: me ensinando a me amar.

Naquela época, eu não sabia disso. Então, passei anos me perdendo de mim para te encontrar — mesmo sem saber que você sempre esteve ali. Você estava apenas tentando me ensinar o que não era.

Fui para a faculdade, mudei de país e você me fez passar por altos e baixos novamente. Você me ensinou que alguém inconstante não é você. Você me ensinou que, sem diálogo, você se esconde.

• Foi quando me dei conta de que você não é tudo de você até que eu seja tudo de mim. Quando decidi ser, finalmente te conheci de verdade.

Tornamo-nos íntimos e pude tirar as minhas próprias conclusões sobre você. Falam por aí que você é um sentimento, mas agora que eu te conheço de perto, sei o motivo pelo qual você vira o verbo amar.

Você é verbo porque representa ação. Você não é a mágica que eu imaginava quando criança. A mágica é uma ilusão. Você é verdade! Hoje, eu reconheço o valor que você possui.

Se fosse mágica e conto de fadas, teria tanto valor? Escolher ter você na minha vida todos os dias te torna ainda mais especial.

• Quando faço dois cafés em vez de um às 5 da manhã, sinto você.
• Quando mando a mensagem “me avisa quando chegar”, sinto você.
• Sinto você quando te escuto sem falar uma palavra, quando assisto a um filme de ação mesmo sem gostar ou quando percebo que comecei a amar escutar pagode.

Ao longo dos anos, você me ensinou lições. Às vezes, você me testou, mas eu deixei você me mudar.

Você me ensinou que, para te merecer, às vezes terei que fazer concessões. Acho que você queria que eu aprendesse com os meus erros, em vez de me entregar o melhor de primeira.

Mas a principal lição que aprendi com você é que eu não te encontro fora sem antes te encontrar dentro.

Para sempre sua,

Gabi

Sim, talvez você já tenha lido essa carta antes. E, sim, estou repostando um ano depois, por dois motivos:

— Porque ela foi uma das coisas mais especiais que já escrevi, e muitas pessoas se sentiram abraçadas por essas palavras.

— Porque tem textos que não envelhecem, mas amadurecem, assim como o amor.

Então, mesmo que você já tenha lido… leia-a novamente. Quem sabe, com outros olhos. Em outra fase. Com outro coração. 💌

— @Gabi